terça-feira, 4 de setembro de 2012

O Pior do Crato
Negócios, 31 Agosto 2012 | 12:33
João Quadros
 
O DN noticiou que, segundo fontes próximas do ministério de Nuno Crato, o Governo tem a intenção de tornar o ensino profissional obrigatório para alunos do ensino básico repetentes e que têm notas baixas.
 
A ideia é permitir que estes estudantes aprendam profissões como cozinheiro, electricista, talhante, agricultor ou canalizador. O objectivo é arrancar com a experiência quando as aulas começarem no próximo ano.

Nos meus tempos, se tinha más notas na escola, diziam-me que, se não estudasse, o meu futuro seria como sapateiro ou ajudante de merceeiro. Eu sabia que me estavam a mentir, porque não conhecia nenhum ajudante de merceeiro com mais de dez anos. Se há um dom que Crato tem é o de nos fazer regressar ao passado. Com o matemático Crato, viajamos no tempo, de marcha atrás. É complicado analisar as decisões do ministro da Educação sem que surja a nostalgia dos tempos sem semáforos, estradas e escolas. Eu olho para o Crato e vejo um parto em casa, toalhas e bacias com água quente.

Há muitas formas de pegar nesta última ideia de Crato. O ministro da Educação demonstra o respeito que tem pelos cursos profissionais. Para ele, chumbar e ter más notas são as características de um bom electricista. O matemático acha que um canalizador é um indivíduo bruto, que chumbava muitas vezes no liceu e que não pode ser deixado sozinho com mulheres que têm problemas em casa, nos canos. Segundo Crato, faltam talhantes no Ultramar. E precisamos urgentemente de quem faça palmatórias.

Tudo vai mudar. Crato quer um sapateiro em cada esquina. O futuro está nos cursos de amolador e um talho é uma zona de conforto. Os maus alunos vão ver a carteira substituída por uma caixa de supermercado e vão ter um calendário escolar, só para eles, com mulheres nuas. Quem chumbar a Português vai para ajudante de mesa no Algarve, e quem tiver más notas a Religião e Moral vai para sacristão ou trabalhar para a Casa Pia. Os professores com má avaliação vão ensinar a fazer brigadeiros aos alunos que chumbam.

Uma coisa é certa, chumbar pode ser o primeiro passo para uma estrela Michelin: com 30 alunos por turma há mais hipóteses de haver dois ou três bons cozinheiros. O país precisa muito de cozinheiros para restaurantes com IVA a 23%.

Por mim, podiam juntar esta lei do Crato à outra do Pedro Mota Soares, e pôr os alunos que chumbam a lutar com a malta do RSI por um lugar de jardineiro -, mas sem estragar as rosas.

Crato teve uma ideia muito democrática que não faz diferença entre ricos e pobres - quem tiver más notas no liceu francês vai para professor de golfe. Já estou a ver o Martim de Bettencourt e Espírito Santo chumbar nos Salesianos e ter de ir estudar para um talho do BES.

Como em tudo, há sempre um lado positivo , e se a nova lei do Crato já existisse há muito, Passos Coelho, a esta hora, era cabeleireiro, e Relvas era… era… era exactamente o que é hoje. De uma forma ou de outra , com mais ou menos exigência, ele havia de lá chegar. Não há nada como a escola da vida.




Quadro de honra

1. Passos Coelho não quer histerismos na RTP - lá se vai a Fátima Campos Ferreira.

2. Uma ideia empreendedora: "Fifty Shades of Grey" com pilhas incluídas.

3. O que concluo do projecto do Governo para a RTP é que, afinal, o FMI não despede pessoas sem uma boa razão.

4. Mitt Romney não usa a plaquinha preta com o nome gravado???

5. Moreira da Silva "O Borges não tem o pin de Portugal. Só conta quando a pessoa que fala tem o pin na lapela. Se não, não vale."

6. Durão Barroso afirmou que os feitos do falecido astronauta Armstrong são "fonte de inspiração" - é verdade. Até consta que as viagens (refeições e estadas) do presidente da Comissão Europeia custam o mesmo que ir à Lua.

7. Universidade de Verão do PSD - a única que garante emprego.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Profs e colocações




No limiar da entrada ao serviço, grande número de professores não sabe onde vai ser colocado. Nada interessa  ao MEC e outros quejandos. Importante é poupar - a tutela - independentemente de um real e proveitoso sistema de ensino de que tanto necessita a nossa sociedade e o mundo em geral.

As privatizações são assustadoramente desmesuradas. Não há um estado que nos proporcione um mínimo de estabilidade ao nível da saúde, educação, trabalho. Tudo em nome da manutenção do dinheiro - poderoso que comanda o mundo. Já não há valores. Os mais novos não vêm isso no exemplo dos mais velhos. Pelo contrário!

Que vai acontecer? O disseminar do chico-espertismo, da corrupção e da vigarice? Vamos matar-nos uns aos outros, pois as necessidades são cada vez mais básicas.

Todos querem ser os eleitos, os mais fortes, os superiores. (Matam-se com as próprias armas).

Se soubessem e acreditassem na força que todos juntos temos....

sábado, 18 de agosto de 2012

Poesia


Mário de Sá-Carneiro 
 "ÁLCOOL"
  (...) 
Respiro-me no ar que ao longe vem,
Da luz que me ilumina participo;
Quero reunir-me, e todo me dissipo ---
Luto, estrebucho... Em vão! Silvo pra além...

Corro em volta de mim sem me encontrar...
Tudo oscila e se abate como espuma...
Um disco de oiro surge a voltear...
Fecho os meus olhos com pavor da bruma...

Que droga foi a que me inoculei?
Ópio de inferno em vez de paraíso?...
Que sortilégio a mim próprio lancei?
Como é que em dor genial eu me eternizo?

Nem ópio nem morfina. O que me ardeu,
Foi álcool mais raro e penetrante:
É só de mim que ando delirante ---
Manhã tão forte que me anoiteceu.

                  


Os Mineiros

Foi na África do Sul. Há dois ou três dias. Um grupo de trabalhadores mineiros que reivindicavam direitos e melhores condições de trabalho, foram brutalmente assassinados pela polícia/poder local.

Hoje em dia, lutar pelos interesses de uma classe é utopia. Longe vão os tempos em que a união era forte, unida e coesa.

A manipulação dos mídia, a construção de opinião de um povo, faz-se através deste fazedores de opções que, longe de só informar, o fazem parcelarmente e de acordo com o Poder que servem. Claro que o emprego, o salário são fatores primordiais nesta quietude anorética da dignidade. Perdem-se valores morais e éticos; subvalorizam-se valores, princípios e condutas. Em nome da sobrevivência, é certo, mas há limites, como em tudo na vida.

O Emprego leva-nos a dignidade, a felicidade, os que amamos, a alma. Somos os atuais vendilhões do templo. Não o nosso, mas o daqueles que servimos.

Os Mineiros disseram não - e morreram.
Os Médicos e Enfermeiros disseram não e fizeram greve - venceram porque se uniram; essa união deu-lhes a força.
Os Professores, alguns dizem não. Poucos. A maioria acomoda-se de uma forma acéfala. Vão morrer com os seus próprios defeitos. Estão condenados a serem gente medíocre, que de facto, não fazem falta(muitos deles) à construção de uma nova geração porque não têm nada para ensinar, a não ser, o conhecimento livresco que não é suficiente para que os mais jovens se apropriem do saber e o adequem, transmutando-se, para o seu saber pessoal, fundamental na construção do indivíduo como ser social, atuante e responsável.

Os Mineiros morreram com balas. Nós morremos devagar, com fome, desemprego, perseguição da tutela, ostracismo, isolamento, solidão, ansiedade...

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Triplamente fresco

Vogue - Triplamente fresco

Sumo de Melancia & Vodka
Ingredientes:
1 Melancia grande
1 Pacote de sumo de mix frutos vermelhos/ melancia/ morango
1 Garrafa de Vodka
Açúcar amarelo a gosto
Gelo
Preparação:
Parta a melancia ao meio, retire o miolo com uma colher e coloque numa tigela à parte. Reserve as metades da melancia intactas.
Tente retirar o máximo de sementes possíveis do miolo e coloque no liquidificador, juntamente com meio pacote de sumo, vodka a gosto (mais ou menos, consoante queira a bebida mais ou menos forte) e 2 a 3 colheres de sopa de açúcar amarelo.
Passe tudo numa velocidade média, apenas para misturar os ingredientes e deixar a textura da melancia prevalecer.
Poderá acertar o paladar, colocando mais sumo, ou mais vodka, ou mais açúcar.
Verta a bebida para dentro das metades de melancia que colocou de parte e adicione gelo.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Poesia




De tudo houve um começo … e tudo errou…
— Ai a dor de ser — quase, dor sem fim…
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou…
                      (…)

Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
    Pilar da ponte de tédio
    Que vai de mim para o Outro.

Mário de Sá-Carneiro, in 'Indícios de Oiro'

domingo, 12 de agosto de 2012

A Violência II

 A violência espalha-se também em meios mais restritos: o Poder do patrão, diretor, chefe, gestor, administrador...
Parece ser uma característica do ser humano. Parece que Deus criou o  Homem à sua imagem (citando a sabedoria profunda de Saramago).
Quase todos nós temos uma perversa vontade de mandar, exercer poder sobre os outros.
"Se querem conhecer o Homem, deem-lhe Poder". Este aforismo retrata bem a importância da formação educacional de uma sociedade. Esta, para ter cidadãos mais conscientes, respeitadores dos direitos seus e dos de cada um, tem de ser formado num conjunto de saberes, cujas reflexões poderão edificar o ser social de modo mais humano e solidário. A Escola com um currículo devidamente elaborado, poderá fazer toda a diferença na construção das gerações atuais e vindouras.

 Das violências há muito a enunciar: aquela que é exercida pela estrutura familiar: a parental, filial, marital.  A do ser individual e suas relações profissionais, pessoais e passionais.
Muito se fala da violência masculina sobre a mulher, pouco da inversa. Esta também existe. Se calhar mais acontecida e menos divulgada por um questão de (má) educação. Normalmente é uma violência mais psicológica do que física, cega, déspota. Todas, chegam a ter contornos de doença do foro (quase) psiquiátrico. E é com os especialistas da saúde que estes casos podem ser reequilibrados - numa sociedade onde o direito público à saúde e à educação é um bem supremo a privilegiar.